Vias de sinalização catabólicas após um ciclo de esteroides: Akt/mTOR/FOXO e miostatina (DUDU)

Tempo estimado de leitura: 5 minutos

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Não existe TPC mágica, uma forma profunda e bonita de dizer que você sempre vai perder depois de um ciclo, não importa o que você faça!

A perda de massa muscular após um ciclo de esteroides é inevitável, e isso ocorre devido a uma drástica mudança no ambiente hormonal pós ciclo. Muitos usuários se questionam se os ganhos podem ser mantidos de alguma forma, mas a verdade é que no geral eles não podem, pois assim como esses ganhos foram conquistados pelo uso de doses suprafisiológicas de esteroides androgênicos, as perdas após um ciclo se devem a suspensão do uso de hormônios anabólicos, com o agravante de a produção de testosterona endógena está suprimida, devido a inibição do eixo HPT (hipotálamo-pititária-testicular) causada pelo uso de esteroides androgênicos.

A ideia do presente artigo é mostrar quais são as vias de sinalização intracelular envolvidas na perda de massa muscular após o uso de esteroides, e mostrar que essa sinalização é independente do estado nutricional ou de treinamento, e sofre pouca influência dos glicorticoides (cortisol), mas está diretamente relacionada a flutuação dos níveis de androgênios e aos baixos níveis de testosterona pós-ciclo de esteroides. Não apenas isso, a alteração da expressão gênica relacionada as vias de sinalização responsáveis pela hipertrofia (Akt/mTOR/FOXO) e atrofia muscular são dependentes dos níveis de andrógenos.



A ativação da via de PI3-cinase (PI3k) pode induzir a hipertrofia do músculo esquelético, definida como um aumento da massa muscular esquelética. Nos mamíferos, a hipertrofia do músculo esquelético ocorre como um resultado de um aumento no tamanho, e não no número (hiperplasia), das fibras musculares esqueléticas. Esta via é ativada pelo fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) e pela insulina. Atividade pró-hipertrofia do IGF-1 vem predominantemente através de sua capacidade de ativar a via de sinalização PI3K/Akt. Akt é uma proteína serinatreonina-cinase que pode induzir a síntese de proteínas (através da via mTOR) e bloquear a supra-regulação transcricional de mediadores chave da atrofia do músculo esquelético, os ubiquitina ligases E3 MuRF1 e MAFbx (também chamado atrogin-1), através da fosforilação e inibindo a translocação nuclear da família FOXO (também chamado “forkhead”) de fatores de transcrição (proteínas que modulam a expressão gênica). Uma vez fosforilada por Akt, os foxos são excluídos do núcleo, e supra-regulação dos genes relacionados a atrofia MuRF1 e atrogin1 é bloqueada. Sinalização IGF1 / PI3K / Akt pode também dominantemente inibir os efeitos de uma proteína segregada chamada “miostatina”, que é um membro da família de proteínas TGF-beta (fator de crescimento transformador-beta). Eliminação ou inibição da miostatina provoca um aumento no tamanho do músculo esquelético, porque a miostatina atua para inibir a diferenciação de mioblastos (célula percursora das fibras musculares) e para bloquear a via de Akt. Assim, através do bloqueio da miostatina, a ativação da via PI3K / Akt estimula a diferenciação e a síntese de proteínas por este mecanismo distinto. Como mencionado, a miostatina também diminui a expressão da via da síntese de proteínas Akt / mTOR / p70S6k, que medeia ambos diferenciação em mioblastos e hipertrofia em miotubos [1].

Após um ciclo de esteroides ocorre uma situação de hipogonadismo temporário (baixa testosterona) induzido pelo uso de esteroides androgênicos. Baixa produção endógena de testosterona, conhecida como hipogonadismo é comumente associada a condições que induzem perda de massa muscular. Sinalização da via Akt pode controlar massa muscular esquelética através da regulação da síntese da proteína mTOR e regulação da degradação de proteínas pelo fator de transcrição FOXO (atua no núcleo da célula alterando expressão gênica dos genes responsáveis pela atrofia muscular), e este caminho tem sido previamente identificado como um alvo de sinalização de andrógenos. Em experimentos em ratos a retirada de andrógenos induzida por castração induz a perda de massa muscular por meio da supressão da síntese de proteínas miofibrilares e está associada com a supressão da ativação da via Akt /mTOR. Houve também subsequente ativação de vias relacionadas com atrofia através PRAS40, e GSK3β. Esta supressão de mTOR foi independente de sinalização AMPK (AMPK atua como sensor celular do balanço energético e inibe a síntese de proteínas inibindo mTOR). Os alvos de transcrição de Foxo atrogin1/MAFbx, MuRF1 e REDD1 foram induzidos pela retirada de andrógenos. Administração de andrógenos (nandrolona) foi capaz de reverter todas essas mudanças no músculo gastrocnêmio [2]. Estes genes (atrogin1, MuRF1) são regulados positivamente em vários modelos de atrofia e caquexia. Eles têm como alvo determinados substratos de proteínas de degradação através da via da ubiquitina/proteassoma. O IGF-1 pode bloquear a supra-regulação transcricional de MuRF1 e atrogin1 através da via PI3K /Akt /Foxo (Akt inibe o fator de transcrição Foxo) [3].

A miostatina é um importante regulador negativo do crescimento do músculo esquelético, enquanto os andrógenos são efetores positivos fortes. De modo a investigar a possível interação entre a miostatina e vias de androgênio, um estudo analisou privação de testosterona (castração) no músculo elevador do ânus de ratos, o que levou a parada do crescimento do músculo em ratos jovens do sexo masculino, e atrofia em alguns adultos, no entanto, ambos os processos foram revertidos por suplementação de testosterona. Depois da castração, um significativo aumento da regulação da proteína miostatina ativa (e os seus pró-péptido) foi encontrada, ao passo que o tratamento subsequente de testosterona reduziu níveis de proteína de miostatina para valores normais em ambos os ratos jovens e adultos. Do mesmo modo, uma supressão de testosterona induzida por níveis de RNAm de miostatina foi observada em adultos castrados, mas não em animais jovens. Ao todo, os andrógenos parecem ter forte impacto negativo na expressão da miostatina [4]. Desse estudo podemos especular que uma redução dos níveis de testosterona ou esteroides pós-ciclo de esteroides leva a uma supra-regulação do gene da miostatina, que acaba por ser responsável por parte da perda de massa muscular após o uso de esteroides.



Disso tudo podemos concluir a perda de massa muscular após um ciclo de esteroides androgênicos está diretamente associada a baixa testosterona e a redução agressiva dos níveis de androgênios. Queda nos níveis de andrógenos induz a perda de massa muscular por meio da supressão da síntese de proteínas miofibrilares e está associada com a supressão da ativação da via Akt/mTOR. Esta supressão de mTOR após uso de esteroides androgênicos é independente da sinalização da AMPK. Os alvos de transcrição de Foxo atrogin1, MuRF1 e REDD1 (relacionados à atrofia muscular) são induzidos pela redução dos androgênios após uso de esteroides. Baixa testosterona também leva a uma suprarregulação do gene da miostatina, que inibe a ativação da via da síntese proteica Akt/mTOR/p70S6k, que medeia tanto a diferenciação em mioblastos como hipertrofia em miotubos.

Reduzir a dose e baixa testosterona pós-ciclo levam ao catabolismo, simplesmente isso!

abraços, Dudu Haluch

REFERÊNCIAS:

[1] PI3 kinase regulation of skeletal muscle hypertrophy and atrophy.
Glass DJ

Biologia Molecular da Célula, Alberts et al. 5ª edição.

Signaling in Muscle Atrophy and Hypertrophy
Marco Sandri

HIPERTROFIA: insulina, IGF-1, testosterona, miostatina e a via da mTOR (DUDU)

[2] Testosterone regulation of Akt/mTORC1/FoxO3a signaling in skeletal muscle.
White JP, Gao S, Puppa MJ, Sato S, Welle SL, Carson JA.

[3] Signaling pathways perturbing muscle mass.
Glass DJ

Vias de sinalização durante a dieta e o exercício, em BULK e CUTTING: mTOR, AMPK, PGC-1alfa, FOXO (DUDU)



[4] Androgens negatively regulate myostatin expression in an androgen-dependent skeletal muscle.
Mendler L, Baka Z, Kovács-Simon A, Dux L.

Myostatin reduces Akt/TORC1/p70S6K signaling, inhibiting myoblast differentiation and myotube size.
Trendelenburg AU, Meyer A, Rohner D, Boyle J, Hatakeyama S, Glass DJ.




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