Contraceptivos Orais: Massa Muscular e Perda de Gordura (Dudu)

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O uso do anticoncepcional nas mulheres tem várias consequências nas alterações metabólicas, embora esteja claro que seu uso tem vantagens importantes, como reduzir a mortalidade [1]. Pouco ou quase nada é encontrado na literatura sobre os efeitos dos anticoncepcionais em relação aos seus efeitos em mulheres que buscam mudança da composição corporal com treinamento e dieta, muito menos as possíveis interações com esteroides androgênicos.

O que já tenho falado a algum tempo é sobre as consequências do uso do anticoncepcional, em particular dos contraceptivos orais combinados (estrogênio + progesterona), na redução dos níveis de testosterona total e livre, IGF-1, e aumento do cortisol. Os contraceptivos orais combinados (COCs) reduzem os níveis de androgênio, principalmente a testosterona (T), através da inibição da síntese de androgênio do ovário e adrenal e aumentando os níveis de globulina ligadora dos hormônios sexuais (SHBG). Devido ao aumento de SHBG , os níveis de testosterona livre diminuem dobro da testosterona total. A dose de estrogênio e progestina tipo do COC não influenciam o declínio da T total e livre, mas ambos afetam SHBG. Níveis mais elevados de SHBG significam menor disponibilidade de androgênios [2].

Este aumento induzido do SHBG por EE (etinil estradiol = estrogênio) pode ser neutralizado pela componente progestina do COC, como um resultado da androgenicidade da progestina. COCs contendo uma progestina com atividade androgênica [por exemplo, levonorgestrel (LNG)] irá induzir um aumento menos pronunciado em SHBG, enquanto que progestágenos com atividade anti-androgênica concomitante [por exemplo, acetato de ciproterona (CPA)] levará a níveis de SHBG mais elevados [3]. É interessante conhecer essas diferenças para fazer a melhor escolha de acordo com a necessidade de cada mulher. Os progestágenos desogestrel, levonorgestrel, linestrenol e noretisterona são conhecidos por exibir determinados efeitos androgênicos. Além da interação direta com o receptor de andrógeno, ligação à globulina de ligação dos hormônios sexuais (SHBG) e deslocamento de testosterona pode levar a um aumento na fração livre, a testosterona metabolicamente ativa [4].



Além do mais estrogênio em excesso vai competir com os níveis de androgênio, reduzindo seus receptores em alguns tecidos. Por outro lado, a retirada estradiol pode potencializar ação dos androgênios, permitindo que os níveis de receptores de androgênio a subir [5].

Como se não bastasse esse antagonismo entre estrogênio e testosterona para interferir nos ganhos de massa muscular, o excesso de estrogênio também tende a atrapalhar na perda de gordura. O padrão do corpo feminino em forma de pera é decorrente da maior presença de receptores de estrogênio na região do glúteo e das coxas, assim como maior presença de receptores alfa-adrenérgicos (anti-lipolíticos) em relação a receptores beta-adrenérgicos (lipolíticos), o que favorece maior acúmulo de gordura nessa região. Membros inferiores de mulheres foram encontrados para ter cerca de nove vezes mais receptores alfa-2 em relação a receptores beta-2. Isso significa menor queima de gordura para as mulheres nos membros inferiores. Receptores alfa e beta adrenérgicos são receptores das catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), hormônios que quando se ligam a esses receptores levam a um aumento (beta 2 adrenérgicos) ou redução (alfa 2 adrenérgicos) da lipólise (quebra da gordura em ácidos graxos para posterior oxidação na mitocôndria) [6]. Além disso, maiores níveis de testosterona estão associados a um aumento dos receptores beta-adrenérgicos [7], e a redução da testosterona pelo uso do COC acaba por impedir essa regulação positiva dos receptores beta, atenuando a lipólise, aumentando a razão entre alfa/beta receptores.

O uso do COC (contendo progesterona + estrogênio) tende a aumentar a concentração desses receptores alfa-adrenérgicos (alfa-2 principalmente), presentes principalmente no glúteo e nas coxas das mulheres, dificultando muito a perda de gordura nessas regiões. Por reduzir a testosterona a aumentar a concentração de receptores alfa-2 adrenérgicos, o anticoncepcional (os que contém estrogênio) claramente cria um ambiente hormonal totalmente desfavorável para uma mudança favorável na composição corporal, já que dificulta o ganho de massa muscular e queima de gordura.



Muitas mulheres ainda conseguem ter uma boa evolução do físico usando contraceptivos orais combinados, mas isso varia do potencial genético e dedicação. Uma escolha melhor (ou menos pior), pensando no objetivo de melhora da composição corporal, seria algum contraceptivo sem o componente estrogênio ou até mesmo não hormonal (como DIU de cobre), e também sem alguma progestina com efeito anti-androgênico (como a ciproterona). Evidente que algumas mulheres usam anticoncepcionais para finalidades que vão além da contracepção, como sangramentos irregulares e intensos, cólicas intensas, síndrome de ovários policísticos etc. E isso deve ser discutido com seu médico. Alguns exames interessantes podem ser feitos para avaliar os efeitos do contraceptivo nas concentrações de alguns hormônios que tendem a sofrer alterações expressivas: testosterona total, biodisponível e livre, estradiol, progesterona, cortisol, IGF-1, SHBG, insulina, LH, FSH.

abraços, Dudu Haluch

[1] Endocrinologia feminina e andrologia.
Ruth Clapauch

[2] Oral Contraceptive Use Impairs Muscle Gains in Young Women
MULHERES: MASSA MUSCULAR e HORMÔNIOS (DUDU)

[3] The effect of combined oral contraception on testosterone levels in healthy women: a systematic review and meta-analysis
Y. Zimmerman et al.



[4] Binding of levonorgestrel, norethisterone and desogestrel to human sex hormone binding globulin and influence on free testosterone levels.
Nilsson B, von Schoultz B.
The effect of intrauterine and oral levonorgestrel administration on serum concentrations of sex hormone-binding globulin, insulin and insulin-like growth factor binding protein-1.
Pakarinen P

[5] Estrogen down-regulation of androgen receptors in cultured human mammary cancer cells (MCF-7).
Stover EP, Krishnan AV, Feldman D.

[6] Estrogen controls lipolysis by up-regulating alpha2A-adrenergic receptors directly in human adipose tissue through the estrogen receptor alpha. Implications for the female fat distribution.
Pedersen SB et al.
Topical fat reduction.
Greenway FL, Bray GA, Heber D.
Differential regulation of alpha-adrenergic receptor subclasses by gonadal steroids in human myometrium.
Bottari SP et al.
MULHERES ESCLARECENDO: anticoncepcional, esteroides, ciclos, colaterais



[7] Fisiologia Endócrina
Patrícia Molina




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